A [Re]Volta de ser Português?

Uma recente notícia atingiu-me como se tivesse levado com um dicionário-enciclopédico-luso-brasileiro-ilustrado em plena zona das virilhas. A dita notícia referia-se às últimas previsões dos resultados de um concurso realizado por um pseudo-respeitável canal televisivo. Previsões essas que, basicamente, colocavam à cabeça da liderança um sujeito conhecido como Tó Oliveirinha Salazar. Se o concurso mencionado se destinasse a eleger “o-melhor-ditador-de-meia-tijela-com-o-pior-corte-de-cabelo- -dos-últimos-oitenta-e-tais-anos”, seria agradável encontrá-lo no Plutão… Perdão, pelotão, da liderança. Contudo, no concurso aludido é pedido ao povo português que escolha, basicamente, “O Maior Português de Sempre” (e, quiçá, de amanhã a oito dias). Ora, insurge-se-me a alma… Perdão, a alma não, porque vendi-a por cincomérréis a um cigano budista com sotaque americano que tocava a trigésima-sétima-e-meia sinfonia de Beethoven com cascas de amendoim.

Ora, basicamente, insurjo-me contra toda esta situação, porque um ditador que:

- atrasou a evolução portuguesa;

- contribuiu para o nosso isolamento face ao resto do mundo (permitam-me relembrar o seu mítico lema: “Orgulhosamente sós com uma tosta de queijo e çabola.”);

- e roubou doces a criancinhas (com o pretexto de estar preocupado com o bem-estar das mesmas… “Ah, e tal, e porque os doces fazem mal aos dentes…”, mas a verdade é que se ia esconder atrás da loja de rolhas do Ti Jeremias, embrulhado numa manta a comê-los, deliciado);

não merece SEQUER ser nomeado para a tamanha honra que é ser o portador do títalo de “O Maior Português de Sempre” (e, quiçá, do mês que vem).

Mas, para falar verdade, não me surpreendeu grandemente. Chocou-me, mas não me surpreendeu. Num quadro popular em que temos:

- os velhos, senis, os coitadinhos, a resmungar “No tempo do Salazar é que era…” (uma merda, na minha humilde opinião), “Quando o Salazar mandava, não havia fome, nem guerra!”;

- os jovens alienados, os pobrezinhos, a sofrerem lavagens cerebrais dos ditos velhotes;

- e a restante população, uns com memória curta, outros com vontade de serem encabados pelos fulanos da PIDE;

a decisão de eleger uma personalidade como o Totó Salazar para vencedor deste concurso seria algo de previsível. Cada vez mais me convenço de que as pessoas que dizem “O Português é, basicamente, um parolo.”, têm, basicamente, razão.

Quando vamos a conduzir o nosso veículo e encontramos:

- carros estacionados em cima dos passeios (constipam as jantes se ficarem nos lugares apropriados);

- carros parados no meio da estrada (“Ó Micas, tá descansada que eu lebo-te a receita dos panados inda hoije! Carros atrás de mim? Eles esperam…);

- pessoas dos 2 aos 222 anos a deitar lixo para o chão com um caixote/ecoponto a 5cm de distância;

- pessoas a caminhar pelo meio da rua, apesar de terem um largo passeio desimpedido de ambos os lados;

- entre muitas outras coisas dignas de referência;

sentimos uma certa revolta.

Revolta de pertencermos a um povo assim, inculto, rude, mal-educado, azeiteiro, INCIVILIZADO…

Será isto ser Português? Ser Português reduzir-se-á a acordar todas as manhãs, escancarar a janela e gritar para todo o Mundo ouvir: “Eu sou Português, logo, sou um mineiro!!!”?

P.S.: Face a estas notícias, a junta de fréguùésia de Vila-Real-de-Santo-Eufrásio-de-Cima-o-Velho emitiu um comunicado em que manifesta o apoio à minha candidatura neste concurso. O nome do movimento é: “Tó-Zé Escorador: o maior Português de sempre! Mineiro como não há igual!”. Contribuam na sucursal da Caixa Geral de Déspotas mais próxima.